A verdadeira dor


Trancada no banheiro, ela fitava as marcas de cortes espalhadas pelos braços.


Ela estava farta de tantas perguntas, tantas mentiras. Cansada de ter que levantar da cama todos os dias e enfrentar o mundo com um sorriso falso no rosto. Sorriso que já não enganava mais nem a si mesma. Estava cansada de todos acharem que estava tudo bem, quando era evidente que não estava.

Não poderia contar aquilo a ninguém. Aquele era seu segredo. De que adiantaria contar se ninguém a compreenderia? Diriam logo que ela era louca sem nem tentar ver seus motivos. Ela conhecia as pessoas. Pessoas são cruéis. Elas te julgam sem nem ao menos conhecer o tamanho da sua dor.

Ela se cansava cada dia mais do mundo fútil. Cansada da pressão da sociedade com a tal beleza padrão. Se for magra demais, é feio. Se for gorda demais, não dá. Ela não queria ser perfeita, e não seria.

Cansava-se das lágrimas caídas em segredo no travesseiro em plena madrugada, único momento em que poderia ser ela mesma sem se preocupar com as pessoas perguntando o tempo todo o porquê do choro.

O que lhe restava? Sofrer em silêncio. Porém uma hora, a dor se acumula e se torna insuportável, e lágrimas não são suficientes para que ela passe. Os machucados, cortes e arranhões se tornaram apenas uma distração para ela, quando a ideia de acreditar que passaria se tornou inútil. Ela tinha esperanças de que a dor física superasse e emocional, pelo menos por enquanto.

Os cortes logo cicatrizariam e a dor no pulso passaria. Mas e a dor de um coração partido?